Árvore do Conhecimento

Árvore do Conhecimento

sexta-feira, 26 de junho de 2015

DENDEZEIRO (IGI ÒPÈ e MÀRÌWÒ)


Quente. 
Nome Popular: Dendezeiro
Nomes Científicos: Elaeis guineensis Jacq., Palmae – PALMACEAE
Elaeis guineensis L., Palma spinosa Mill.
Orixás: Oxalá e Ogum.
Elementos: Ar/masculino
Forte, abre caminhos, mostra o erro seu e do outro, descobre o inimigo. Ajuda o homem a ter força na ação e na palavra.
De origem africana, o dendezeiro foi introduzido no Brasil no período colonial. É encontrado em estado subespontâneo na região amazônica e em zonas nordestinas, onde atualmente existem também vastas plantações para fins comerciais.

O dendezeiro  é palmeira imprescindível numa cas de candomblé. Na formação de um terreiro, uma das primeiras árvores a ser plantada no seu "espaço-mato" é o dendezeiro, de preferência ao lado direito da porta de entrada principal.
Em virtude de Obaluaiê ser um orixá que tem afinidade com os troncos e ramos de árvores, muitos acham que essa palmeira lhe pertence; todavia, existe um mito muito popular nos terreiros de candomblé que afirma ter sido apenas o màrìwò (broto da palmeira) propriedade desse orixá, mas que ao ver Ogum despido cedeu esse vegetal para o orixá da guerra e se apropriou da palha da costa (ikó) para fazer sua própria roupa. Assim, embora o tronco de onde saem as palmas esteja relacionado com os Orixás-funfun, o elemento criador, o màrìwò, tornou-se a roupa símbolo de Ogum, orixá filho de Oxalá, sendo citado em um de seus cânticos que faz alusão ao fato deste guerreiro não possuir roupas, mas que se vestem com os brotos do dendezeiro:OGÚN KO L'ASO, MÀRÌWÒ L'ASO OGÚN O! (Ogum não tem roupa, màrìwò é a roupa de Ogum). O màrìwò, colocado nas soleiras das portas e janelas da casa de candomblé, serve de proteção "contra todo tipo de entidades nefastas". Assim como Ogum, Ossaim também se utiliza do màrìwò, e um dos principais orin ewé do ritual da sasányìn faz alusão a esse vegetal como o elemento que ajuda a concretizar os ideais  dos adeptos:
"BIRI BIRI BÍTI MÀRÌWÒ
JÉ ÒSÁNYÌN WÁLÈ MÀRÌWÒ
BIRI BIRI BÍTI MÀRÌWÒ
BÁ WA T'ÓRÒ WA SE MÀRÌWÒ"

"Na escuridão màrìwò faz a luz
e mostra o caminho de casa a Ossaim
Na escuridão màrìwò faz a luz
e ajuda-nos a concretizar nossos projetos"

Essa relação íntima que Ogum tem com o dendezeiro é citada por Santos (pp.92/93): "Às vezes seu 'assento' também é 'plantado' ao pé de um igi-òpè, cujos troncos simbolizam a matéria individualizada dos orixás fun-fun e particularmente de Oxalá. Vimos que as folhas brotadas sobre os ramos e os troncos simbolizam descendentes. As palmas recém-nascidas do igi-òpè, chamadas màrìwò... constituem a representação mais importate de Ogum, tão importante quanto seu machete de ferro com o qual ele desbrava os caminhos." As nervuras das folhas são usadas , ainda, espetadas em inhame, constituindo-se oferenda a Ogum. Essas mesmas nervuras também "são utilizadas para Obaluaiê quanto para sua mãe Nanã", que, segundo Santos (1976:82), "os ancestrais, representados coletivamente por um feixe dessas nervuras, constituem o corpo, o elemento básico, não só do sàsàrà, emblema de Obalúaíyé, o filho contido por Nàná, e simboliza seu poder genitor."

O dendezeiro, como palmeira ligada aos orixás da criação, está relacionado também com outros orixás com os quais  Oxalá tem vínculo, como é o caso de Xangô-Airá, cujo "assento" pode repousar sobre um tronco de dendezeiro, diferentemente dos outros Xangôs, que utilizam pilões esculpidos em madeira.

Embora o dendezeiro seja uma palmeira atribuída aos Orixás funfun (originais), dos seus frutos extrai-se o epó-pupá (azeite-de-dendê), de uso proibído em tudo que diga respeito a Oxalá e seus iniciados. Das amêndoas contidas no interior dos coquinhos, produz-se um óleo branco -aláàdí- utilizado para Oxalá, que, ao contrário do azeite-de-dendê, é um interdito de Exú.

Conhecido ainda pelos nomes iorubás òpè, igi òpè. imò  òpè, ògómò òpè, òpè olówá, òpè pánkóró, ipánkóró, òpè arùnfó, òpè èrùwà, òpè eléran, òpè alárùn (Verger 1995:668), o dendezeiro é usado nos cultos africanos  com as mais diversas finalidades. Da variedade Elaeis guineensis idolatrica, conhecida na África pelos nomes de òpè segisegi, òpè ifá, òpè ikin, òpè yálayàla, òpè kannakánná e òpè olífà (Verger 1995:669), são colhidos os coquinhos (ikin) utilizados no oráculo de ifá para previsões.

Também sobre essa palmeira as feiticeiras, na forma de pássaros negros noturnos, se estabeleceram, conforme o mito relatado pelo Odú Òdí Méji do oráculo de Ifá (Verger 1992:59). No topo da árvore, amontoaram uma grande quantidade de terra e construíram um pátio onde faziam suas reuniões para tramar seus ataques contra os homens. Orumilá era o único que conhecia o segredo das eleye (outro nome das feiticeiras) e tinha poderes para proteger o aiyé (terra) da ação destruidora  dessas entidades maléficas. Das sete árvores onde pousaram as Iyami, o dendezeiro foi a única onde elas encontraram condições ideais para se estabelecerem. Um fato que citamos a título de ilustração é que os urubus têm preferência pelos frutos do dendezeiro e costumam pernoitar sobre esta palmeira do mesmo modo como, nos mitos,  as feiticeiras represeentadas por pássaros negros se reuniam à noite sobre o òpè segisegi.

Os nagôs e iorubás denominam este coqueiro por Igi Okpe. Do fervimento se sua polpa surge o azeite-de-dendê (zomi ou ami-vovo dos fons; epò-pupa dos nagôs e iorubás).

E do coquinho, o okwe conhecido pelos mahis, é preparado o adin (óleo de sòsò) e isto desagrada a Legba, sendo um legbasu (proibição de Legba; de su- proibição) porquê envolve a destruição do coquinho para seu preparo, e os coquinhos são sagrados de Fá, divindade da advinhação com a qual Legba colabora servindo de intermediário no Fá-Titê (Jogo do Okpele-Ifá em yorùbá), trazendo as respostas de Fá através da leitura dos dùs (destinos). Por isto Legba não gosta do adin. Devido ao temor que se tem da divindade, as indústrias não costumam utilizar do coquinho de quatro orifícios, ou olhos, sagrados do Fá, e procuram usar nos processos aqueles que não servem para o jogo, com números de olhos distintos. 

O azeite-de-dendê serve de base nas culinárias litúgica e profana, especialmente no Nordeste brasileiro, constituíndo-se uma marca expressiva da cozinha baiana.
Na fitoterapia, o azeite-de-dendê é utilizado, externamente, contra angina, erisipela, panarício e filariose. Internamente combate dores de cabeça e cólicas abdominais.

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